terça-feira, novembro 21, 2006

Ser o CEO é ter um emprego sensacional

Ex-CEO da GE fala pela primeira vez sobre gestão e liderança para executivos brasileiros.
Quando se fala no ex-CEO da GE, Jack Welch, os números são sempre impressionantes. Sua fortuna pessoal é estimada em U$$ 900 milhões. Nos 20 anos em que comandou a empresa, o faturamento pulou de US$28 bilhões para US$ 130 bilhões. Seu pacote de benefícios na aposentadoria, em 2001, era equivalente a R$ 2,5 milhões anuais.
Em sua gestão, o grupo fez centenas de aquisições e um amplo downsizing no qual mais de 100 mil empregos desapareceram. Por isso, ganhou o apelido de "neutron Jack", uma alusão à bomba que elimina pessoas e deixa os edifícios em pé. Apesar das críticas, Welch até hoje e umn modelo de liderança para uma legião de executivos.
Ontem, em sua passagem por São Paulo, à primeira visita ao país como palestrante, Welch falou para uma platéia de quase 4 mil executivos na ExpoManagement, evento promovido pela HSM. Com a voz um pouco mais fraca, aos 71 anos de idade, mas com o mesmo entusiasmo que o levou ao pódio dos maiores gurus da administração moderna (em 1999 foi eleito "homem do século" pela revista "Fortune"), durante mais de duas horas ele respondendo a perguntas da platéia e da organização. "É difícil vir logo após um técnico de futebol no Brasil", disse bem-humorado referindo-se a apresentação anterior do técnico Luiz Felipe Scolari.
O formato pergunta/resposta parece ser o preferido de Welch, não só nas apresentações ao vivo mas também nos livros. Em "Paixão por Vencer: As Respostas", lançado esta semana simultaneamente em diversos países, ele usa essa fómula para falar sobre 76 fatores que considera críticos para o sucesso. Escrito a quatro mãos com a esposa Suzy Welch, ex-editora da Harvard Business Review, a expectativa da editora Campus no Brasil, é que ele repita o sucesso dos anteriores "Jack Definitivo" e "Paixão por Vencer", que já contabilizam mais de 200 mil cópias vendidas.
Na coletiva que antecedeu a apresentação, Welch disse que os gurus da administração e bestsellers como "O Monge e o Executivo", de James Hunter, servem mais para auxiliar os jovens do que os presidentes. "Quando a pessoa torna-se CEO, em geral, já possui sua própria perspectiva sobre as coisas", acredita.
O carisma, para Welch, é o grande acelerador na escalada para o topo, apesar de não ser uma característica fundamental dos lideres. "Ele apenas faz as coisas acontecerem mais rápido" disse. Citou o exemplo de Bill Clinton que chegou a presidência aos 40 anos e Alan Greenspan, que alcançou o sucesso aos 63. A pressão por resultados, que hoje aumenta a rotatividade dos CEOs, para ele, não é muito diferente do que há 20 anos. "Os holofotes talvez estejam mais quentes", disse. A competição também é a mesma. Antes a ameaça eram os japoneses, agora são os chineses, os indianos.
"Ser CEO é um emprego sensacional", enfatizou. Welch disse que hoje os presidentes reclamam muito quando deveriam estar animados com o cargo. "Não dá para ter medo" A pressão dos conselhos de administração não pode ser ameaçadora. A fórmula de sucesso para a liderança na era do conhecimento, para Welch, é simples. "É preciso maximizar o intelecto de todos porque as idéias não dependem do número de estrelas que elas têm no ombro", disse.
Para Welch, uma boa gestão de pessoas significa: desafiar, reconhecer e celebrar. "E não pense que o dinheiro é sujo, a melhor celebração é um cheque", ensinou. O trabalho em equipe, disse, só funcionará se fizer parte dos valores da organização. Para ele, se a companhia valoriza essa união, o desempenho individual não poderá ser recompensado pelo resultado superior. "As pessoas vão achar que você não é coerente" disse. A regra vale também na demissão. E preciso explicar que a pessoa não estava conectada aos valores da empresa.
Sempre direto ao responder as críticas sobre ma obra, Welch indica a mesma fórmula para os CEOs. Franqueza sempre. "Esconder é a pior coisa". Para ele, é melhor dizer a um funcionário se ele está correspondendo as expectativas ou não. "E bom fazer isso quando ele é jovem e pode mudar, não dá para fazer quando a pessoa tem 55 anos de idade, 30 de companhia e não consegue mais mudar a carreira".
Os departamentos de recursos humanos, segundo Welch, estão começando a ganhar sua real importância. "Os CEOs rnais espertos já perceberam que é melhor colar no executivo de RH do que no CFO", brincou. Reunir os melhores e não ter pena de substituir os piores faz parte de urna gestão eficiente. "Não dá para ter um bando de derrotados para executar o que você imaginou, assim você só perde".
Uma vida dedicada à formação de líderes
Ninguém influenciou tanto o mundo empresarial com seus conceitos de gestão como Jack Welch. Já falou para mais de 300 mil executivos no mundo e sempre será lembrado como o líder que imprimiu a marca de desenvolver outros líeres. "Há alguns anos, a própria GE mantém uma fábrica de 'clones', responsável por disseminar a sabedoria de Welch", afirma Thomaz Wood Jr., professor da Escola de Administração da Fundação Getulio Vargas (EAESP-FGV). Não é a toa que deixou descendentes diretos, como Bob Nardelli, da Horne Depot, e Jim McNemey, da 3M.
Quem pensa que seu modelo de gestão ficou no passado está enganado. "Seu estilo de administração ímpar a frente da GE ainda é atual e continuará a ser estudado em escolas de negócios nos próximos 30 anos", diz Edson Bueno, presidente do grupo Amil e fã assumido do ex-executivo. "Um nadador de sucesso sempre será um bom nadador, no passado, presente e futuro. Assim é Jack Welch".
Mesmo tendo antecessores importantes na GE - empresa fundada por Thomas Edison, inventor da lâmpada -,Welch teve as atenções da mídia e suas idéias copiadas por outras companhias. "A famosa frase 'conserte, venda ou feche' mexeu com a estrutura de muitas empresas. Mas ele as fez enxergar que não dá para manter vivo um negócio que não está indo bem", observa Carlos da Costa, sócio da consultoria P&L e professor de estratégia empresarial da Escola de Economia da FGV. Segundo ele, Welch ficou conhecido pela objetividade e por não aceitar o meio termo. "Para ele é sim ou não. A palavra talvez não está no seu vocabulário", diz.
Costa, que costuma falar de Jack Welch em suas aulas, acredita que uma das maiores lições do guru da administração é que o líder nunca deve se render à mediocridade e à estagnação. "O desafio de quem faz a diferença é arrancar a praga da mediocridade e alimentar a semente da excelência"
Fonte: Stela Campos no Valor Econômico de quarta-feira, 8 de novembro de 2006 (colaborou Andrea Giardino)

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